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Louca/Estranha/Anormal/Distante/Fria/Egocêntrica E muitas outras mais... Autora de Angelus, Tokyo Revivers e A Cor da Lágrima, codinome: Horigome Namika

sábado, 29 de maio de 2010

“Todo Rei deve ser servir para ser servido. Mas os únicos para que um rei abaixa sua cabeça devem ser os deuses”
O Rei Ivan Gardner repetia aquelas palavras com afinco, como se necessitasse daquilo como ar ou água. No entanto, esquecia-se momentaneamente daquilo quando o jovem que parecia uma cópia do próprio rei entrava.
- Vita eternus ut Pium! (Vida eterna à Pátria) – saudou Oliver.
- At Pium eternus (A Pátria será eterna) – retribuiu o rei – O que trazes de novo?
- O território das Pedras foi conquistado meu Rei – informou Oliver – Brevemente estaremos às portas da Capital.
- Interessante – murmurou Ivan, de forma não muito animadora. Não porque estava desanimado em seu exército, muito pelo contrário. Aqueles bravos homens lhe renderam vários territórios e a rendição de nobres estrangeiros. Depositava grandes esperanças em seus soldados e mais ainda em Oliver, seu herdeiro e defensor de seu reino. – Assuma! Precisarei retirar-me.
Sem mais palavras, Ivan levantou-se do imponente trono que ocupara. Por dois dias, a responsabilidade a alegria em assumir o maior país do mundo seria a de seu mais fiel pupilo.

Seria aquele o pior lugar do mundo? Não, pois nem mesmo estava lá. Na verdade, era tão escuro, brutal e estarrecedor que poucos humanos se atreviam a ir lá e voltar com vida. O submundo horripilante fora o único lugar que restara à Deusa renegada pelos humanos e por seus iguais. Sentia-se esquecida e rancorosa? Talvez sim, mas por algo que pertencia à sua natureza desde sempre.
Permanecia espiando os pecados humanos pela grande água negra que jazia no recepiente raso e quase plano, mas de uma ardósia tão profunda quanto o seu conteúdo.
Lua se divertia com os humanos e seus erros estúpidos, suas tentativas de honra e caratér. Mas um era seu particular. Um Imperador ganancioso e corrupto tal qual sempre esperara. Alguém que a vingaria do dia em que fora banida e condenada às trevas para sempre. Lua o vira desde criança, enquanto acariciava seus lobos infernais, dóceis somente ao seu toque. Maligno, invejoso do irmão mais velho por tudo: desde brinquedos banais na infância, ao poder e ao matrimônio com a mulher mais bela do Império do Fogo.
Ao ostracismo eminente, Lua já não tinha tantos veneradores como antes. Suas filhas e filhos, no entanto, permaneciam fieis às suas ordens e anseios.
- Mande-o entrar – ordenou a fria Deusa diante da pequena menina de expressões vazias que lhe servia.
Pela porta de chumbo entrara o convidado e o humano com quem mais se divertia.

Durante os últimos 25 anos, a visita ao submundo virara uma rotina, um excêntrico retiro espiritual que Ivan Gardner repetia a cada dois meses. “Todo rei deve servir para ser servido, Mas os únicos para que um rei abaixa sua cabeça devem ser os deuses”. No seu caso, respeitava somente à Deusa Lua. Perdera toda a sua fé nos outros, quando os próprios, a seu ver, foram injustos com a sua pessoa. Falava-se muito nos deuses, mas somente aquela que todos tinham medo e sequer ousavam pronunciar seu nome é quem transformava seus anseios em realidade.
Em todo caso, era privilegiado entre os poucos fieis à Deusa da escuridão. Por convenção, nenhum humano passava pelos portões de fogo, a não ser que esteja desencarnado e sua alma flamejando de pecados. Mas Ivan Gardner apenas passava por ali, porque sua alma não pertencia mais à ele, e sim, à Deusa que encontraria a seguir. A pele arrepiava, não pelo frio, muito pelo contrário. As paredes eram de pedras recobertas por fogo. E nessa cortina macabra, rostos gritavam. Clamavam por socorro, expressavam seu sofrimento de estar ali. Poderia, em breve estar ali por seus pecados. Mas com certeza, seu sofrimento pós-morte seria muito maior que o daqueles infelizes.
- Faz tempo que você não aparece Ivan! – comentou a Deusa. Ivan andara ocupado demais em suas conquistas. – O que você quer desta vez?
Ivan aproximara-se ainda mais do trono de Lua, mas seu orgulho não deixava que ele prostrara-se frente à ela.
- O que lhe incomoda? – Lua deslizou até Ivan e acariciou seus cabelos vermelhos com seus dedos pontiagudos e esguios. – Eu sei o que está em sua cabeça, tudo! E posso resolver seus problemas em frações de segundos…
- Sim, um grande problema… um problema de cabelos vermelhos…
- Deseja eliminá-la?
- Sim.
- Por que? Ela é só uma princesa boba, que sequer sabe empunhar uma arma. Como tomará um reino?
- Mesmo assim, quero eliminá-la.
- Mande o menino.
- Oliver?
- Sim. – afirmou Lua, enfática – Ele não será o seu herdeiro?
- Claro… – concordou Ivan. Ele já estava de saída quando a deusa o chamou, mais uma vez.
- Traga-me o sangue dela.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sua missão havia terminado ali. Logo aquilo que havia aceitado apenas por obra do acaso, para que sua mãe não soubesse o que ela andara aprontando durante a “viagem”.
Mas agora era tempo de voltar pra casa e deixar-se abraçar pelos braços calorosos de mãe. Seus dezoito anos estavam se aproximando, e querendo ou não, era a hora da sociedade conhecer verdadeiramente sua princesa.
- Você nos mandará os convites não é Agatha? – cobrou Vicky dando uma piscadela, antes de tomar sua condução.
- Se eu souber onde te encontrar, sim! – respondeu a jovem. Não saberia aonde encontrar a ladra. Provavelmente em algum lugar do país aplicando golpes.
- Nem sei como agradecê-la – despediu-se com um abraço Lena. Ela voltaria à sua aldeia a fim de estudar para o exame de admissão à Universidade. Provavelmente apareceria algumas semanas antes do Baile de Apresentação da Princesa.

Assim, partiram as três, cada uma para o seu lado, em breve voltariam a se encontrar…

- Minha Agatha! – saudou a mãe, abraçando-na fortemente, com a força ao nível da saudade que sentira – Você está bem, se machucou? Céus! Você está imunda! E esses trapos…
Agatha mal teve tempo de dizer algo, tamanha era a saudade que sentia da mãe e daquele palácio, mas não da vida que levava quando ainda era uma princesa ignorante. Não… definitivamente era uma pessoa completamente diferente daquela que um dia partira daquele reino, deixando para trás toda a segurança e felicidade que falsamente sentira durante quase dezoito anos…

Aquele palácio chamava-se Palácio de Cristal. Trabalhado em vidro que refletia a luminosidade recebida pelos raios de sol que permeavam o Reino Suspenso do Ar. Também era chamado de Fortaleza Suspensa, pois essa era a impressão que tinha-se ali, nas nuvens brancas que serviam de mãe praquele país. Por todos esses motivos, sempre se sentira mais deusa que todos os outros… e por aquele e mais outros que nunca recebera um olhar daquela pessoa como gostaria de receber.
- Fui avisado do retorno de Vossa Alteza, gostaria de me ver o mais rá… – Dimitri parou imediatamento ao perceber em que tipo de recinto estava… uma névoa tão doce e aromática invadira-lhe os pulmões… as várias amas envolvendo-na com toalhas brancas e felpudas. No centro de uma grande piscina de água borbulhante, ela estava lá. Tão branca. Tão intocada. Tão pura.
Com um gesto dispensou as criadas e com outro fez sinal para que o rapaz de gostos finos se aproximasse. Visivelmente constrangido, Dimitri se aproximou dela, mas fitava seus pés o tempo todo.
- Se Vossa Alteza preferir, eu aguardo o término de seu banho terapêutico.
- Pare de ser bobo! – interrompeu Agatha – Eu não estou completamente nua! Além disso, lembra quando nós tomávamos banho escondido no Rio das…
- Mesmo assim Vossa Alteza, devo demonstrar respeito para com a …
- Humpf – resmungou Agatha, incomumente à sua maneira sempre polida de pronunciar-se. Não lhe agradava a formalidade que envolvia os dois. Aquilo a constrangia mais que tudo.
- Como foi a viagem?
- Interessante. – respondeu Agatha – Acho que foi bastante… instrutiva.
- Vossa Alteza procurou o que queria?
- Talvez. – respondeu Agatha vagamente. Não queria contar todos os detalhes a Dimitri, mesmo que ele fosse fiel à sua pessoa até a morte. Mesmo assim, a jovem não estava sendo hipócrita consigo mesma. De fato, Agatha não conseguira encontrar a resposta para a crise em si mesma, mas o que seus olhos viram durante sua “peregrinação” definitivamente a ajudaram a ser uma pessoa melhor. – Eu… eu acho que não estou pronta pra ser Rainha… não ainda.
- Entendi. Com sua licença…
- Espere! – pediu Agatha, antes que o jovem girasse seus calcanhares.
Dimitri parou aonde estava e sequer se mexeu. A princesa adivinhara por seus olhos o que transparecia e quase saltava como palavras. Então, ela notara…
- Não quero lhe revelar isso… não, até o Baile. – respondeu Dimitri, sem maiores explicações.
Ela suspirou, e quando tentou encontrar sua figura, ela já havia se dissipado entre a névoa.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Por este país

- Quem está… quem está… aí? – murmurava uma voz vacilante repousando no leito de véus. Era tão fraca e sem fulgor, traduzindo o estado daquele ser.

- Calma, calma, meu nome é Agatha. Agatha Vizcov Tess. Princesa do Reino Suspenso do Ar – dizia Agatha enquanto tirava o turbante, revelando os longos e sedosos cabelos ruivos iluminados pelo luar prateado.

O rei virou-se dando um sinal para que a jovem se aproximasse um pouco mais. Agatha assim o fez, e deslizou seus pés rumo ao leito. Prostrou-se ante ao Rei, não sabia como se comportar, jamais tinha ficado frente a um rei senão seu pai.

Vira, pela primeira vez, aquele homem deitado. Coberto de panos e lenços, se assemelhando a uma múmia. No rosto, uma máscara prateada cintilava à luz do luar.

- Eu… me desculpe, eu…

- SHHHHHHH- o rei silenciou com o dedo entre os teóricos lábios – Tess… hã…

Agatha não entendeu de pronto. O que ele gostaria de lhe dizer?

- Há muito e muito tempo eu conheci uma jovem condessa. Ela era bonita e doce e meiga… – o rei contava como quem conta um devaneio. Agatha apenas ouvia pacientemente – Mas um dia ela foi embora, ela se casou com o Príncipe do Reino do Ar e nunca mais voltou.

Sim, finalmente a jovem o compreendera. Então sua avó era uma nobre do Reino do Ar!

- Mas não vejo em você nada daquela nobre…

Agatha lembrou-se de sua infância e do turbante deixado no chão. Não era a primeira vez que alguém falava da sua falta de semelhança com sua família, e não seria a última. Aquilo não mais lhe incomodava, era algo que teria de conviver pra sempre mesmo.

Um pequeno solavanco na porta, ela se abriu com tamanha força e vigor. Dela saíram vários seguranças, dois deles segurando duas inquietas moças, uma loira e uma morena. Do pequeno aglomerado de gente, saíam dois homens de meia-idade, usando vestes nobres e semblantes autoritários.

- Prendam-na – ordenou o primeiro. Dois seguranças avançavam na direção de Agatha, que receosa, recuou mais.

- NÃOO – o rei se opôs com certo vigor.

- Mas meu senhor – repetia o segundo dos homens – O cabelo dessa jovem é vermelho! Ela é uma espiã do Império do Fogo! E essas jovens, aquela é uma ladra procurada e a outra uma traidora do Reino da Água…

- Esta jovem é a herdeira do Reino Suspenso do Ar. Deve ser tratada como em seu reino, como a princesa que deveras é.

Os dois homens entreolharam-se e deixaram os seguranças liberarem as jovens. Ainda que a contragosto.

- Como quiser, majestade.

Agatha acordou com os raios solares envolvendo e iluminando seu pálido rosto de princesa recém saída do castelo. Pelo alvoroço na cozinha, presumiu que Lena e Vicky estavam acordadas.

Vestiu o robe perolado e se deparou com o motivo da gritaria. Surpreendeu-se ao ver os homens, cônsules daquele país, à sua espera na sala.

- O que vocês querem? – perguntou Agatha, cujo humor não era dos melhores ao ser subitamente acordada.

- O rei solicita vê-la… alteza – respondeu o cônsul, com tal rispidez nas palavras, como se estivesse com nojo.

- E minhas damas de companhia?

- Serão tratadas como Vossa Alteza desejar.

- Uma charrete à disposição delas? – desafiou Agatha.

- Como? – perguntou o cônsul incrédulo.

- Disseram que serão tratadas conforme o meu desejo. É isso o que quero.

O cônsul não teve outra escolha a não ser conceder o desejo da convidada. Lena ficou entusiasmada, aproveitaria a oportunidade para ir à Universidade. Vicky não pareceu tão feliz. Talvez não apreciasse a companhia de dois brutamontes do governo. (Ou talvez os lugares que frequentasse não permitisse isso).

 

Agatha foi conduzida pelo cônsul até a charrete, onde o segundo estava esperando-na. Aquele país, como Lena lhe dissera, apesar de ser um Reino, se chamava República da Terra, e era governado por dois cônsules. O motivo, Agatha ficara sabendo, o rei era doente, doente o bastante até para ignorar a situação do seu próprio reino.

- Bem-vinda senhorita – saudou hipocritamente o segundo cônsul.

- Bom dia – respondeu apaticamente Agatha.

Os cavalos trotavam pelas ruas de pedra. Na cabine, os cônsules insinuavam coisas à princesa.

- Vai ficar quanto tempo, princesa? – perguntou um deles.

- Tempo suficiente pra resolver questões diplomáticas.

- Espero que saiba o que está fazendo, Alteza. – falou ironicamente o outro.

- O que o senhor quer insinuar com isso? – disse Agatha, sendo objetiva.

- Nós não queremos insinuar nada, Alteza. Apenas que saiba que antes de dizer algo desnecessário ao rei, compreenda como é este país.

- Compreendo muito mais que os senhores, pode apostar!

Ambos deram sorrisos sarcasticamente falsos. E prosseguiram com a viagem.

 

Agatha foi levada até um pequeno palacete, adornado com flores e árvores. O jardim, tão amplo, continha um lago bonito, onde carpas nadavam. O rei estava sentado à beira do lago, a toalha xadrez estendida  e várias guloseimas sob ela.

- Muito obrigada por nos defender, Majestade – agradeceu a pequena princesa – Não é a primeira vez que eu me meto em confusões por causa do meu cabelo vermelho!

- Eu li o pergaminho que sua mãe me enviou – disse o Rei – Eu… nem sei o que dizer.

- Imagino… a algumas semanas eu era como Vossa Majestade. Eu também era ignorante e não sabia o que acontecia em meu reino. Não sabia as atrocidades que o Império do Fogo cometia contra o meu povo e contra os outros. Vi a miséria no Reino da Água e o sofrimento na República da Terra.

- Os meus cônsules fazem de tudo para manter esse reino bem.

- Me desculpe, mas acho que não fazem o suficiente. – apontou Agatha, relembrando todas as intrigas em que se metera pela corrupção dos soldados – O senhor não faz ideia do que eu vi neste reino! Os seus soldados estão se vendendo a moedas para o Império do Fogo e logo logo eles irão chegar à Capital.

- Não conseguirão! – o Rei tentou convencê-la – Nossas barreiras são intransponíveis.

- Bem, se o senhor prefere acreditar nisso… – ela se levantou, mas hesitou depois que viu um gesto do rei.

- Não ache que o meu reino é governado por dois cônsules porque eu assim quis! Eu precisei fazer isto!

Agatha sentou-se novamente. E quis ouvir o porquê de um Reino se transformar em uma República.

A cinquenta anos atrás, havia um rei e ele era casado com a dama mais bela de todo o Reino. Apesar de ter dinheiro, poder e a mulher mais bela em sua cama, ele não se contentava com isso.

O rei tinha várias concubinas e era especialmente maldoso com elas, e com seu povo. Depois que alguma delas engravidava, ele mandava que lançasse o bebê no Abismo do Medo. Apesar de possuir vários filhos com suas amantes, ele não reconhecia nenhum e sua esposa não conseguia dar ao Reino um herdeiro.

Um dia, a Deusa Terra, com pena da rainha, concedeu à ela um filho varão, saudável e forte. A Rainha, então, ficara muito grata à Deusa.

Porém, o Rei continuava a praticar suas maldades contra o povo e contra seus filhos ilegítimos. A Deusa Terra se arrependeu de ter concedido a graça ao Rei ao ver o desespero das mães com seus filhos descartados. Como punição, profanou a pele do herdeiro com uma doença que nem os homens mais sábios do mundo curaria. O herdeiro jamais poderia tocar uma mulher, e assim, nunca daria filhos ao Reino da Terra.

E logo quando ele completou quinze anos, quando estava apaixonado por ela, uma bela condessa. Nunca poderia casar-se com ela, nem poderia tocá-la e dar-lhe filhos. Assim, aquele palácio feito para ela ficaria como uma lembrança nostálgica. E ela, estaria feliz, quem sabe, ao lado do Rei do Ar e lhe deu um filho forte e varão.

- Eu não sabia, me desculpe – balbuciou Agatha.

- Agora Vossa Alteza entende, entende o porquê deste Reino estar fadado a ser uma República.

domingo, 2 de maio de 2010

Cap. 21 O Baile

Vicky acordara cedo e voltara logo depois que Agatha havia terminado o café da manhã. Trazia consigo três ingressos e deu cada um às companheiras
- Como você arrumou isso? - perguntou Lena, já julgando que a garota arrumara os convites ilicitamente.
- Não roubei se é isso o que você está pensando! - respondeu Vicky - Eu diria que... ganhei.
- Desculpe por perguntar, mas eu queria saber como você conseguiu nossas entradas.
- Tá, tá... se vocês insistem...
Aquele local da cidade era considerado suspeito, até mesmo para Vicky, acostumada àquele mundo. Mas daquela vez, as atenções estavam voltadas para a dama de vestido de veludo, que desde cedo, apostava com furor. A madrugada já entrara, quando a loira se aproximou dela, já pressentindo que a dama seria uma vítima fácil.
- A fim da melhor aposta da noite? - propôs Vicky.
- Não me interesso por poucos trocados, se quer saber - a lady anunciava suas condições - Já perdi muito nesta noite.
- Tenho certeza de que a senhorita se interessará por isso - Vicky tirou da bolsa o colar de rubi que pertencia à Agatha, certamente sem o consentimento dela – Jóia exclusiva do Trono do Fogo! Legítima!
Os olhos dela faiscaram de cobiça ante ao colar. Caíra no papo da maior trapaceira do mundo.
- A aposta terá que ser alta.
- Aposto o que eu tiver! – disse a lady desesperada – Aposto minhas entradas para o Baile Real.
Vicky deu um sorriso de satisfação. Sua intuição não falhara.
- Agora sim, você está falando a minha língua!
A mulher tirou as entradas e as colocou em cima da mesa. Suas mãos foram seguras pela dama de companhia, uma mocinha de pouco mais de vinte anos.
- Condessa Lilac, a senhora não pode!
- Pára de falar Gertrude! – censurou a outra – Esta é uma oportunidade única e eu não posso perde-la
Antes ela tivesse ouvido a empregada. Condessa Lilac era tão ruim no jogo que Vicky nem precisou utilizar-se dos dados viciados que sempre carregava.
- Foi muita sorte mesmo Vicky! – exaltou Agatha – Graças à você estaremos no Baile.
- Ela não fez nada mais que a obrigação Agatha! – ressaltou Lena – Afinal, ela que perdeu a sua entrada não foi?
Agatha se vestira impecavelmente como a Princesa de contos de fadas que foi criada para ser. Lena andava de queixo erguido, se esforçando a todo custo para não cair do sapato alto, Já Vicky agia com naturalidade no Baile, fazendo cara de moça de família, enquanto os olhos astutos caçavam por homens ricos e ingênuos.
Agatha foi seguida de perto por Albert Laprel, um rapaz elegante, porém um tanto vazio, que ostentava o cargo de ministro da Cultura.
- Vossa Alteza deveria ter-nos anunciado vossa presença! – dizia – Com certeza, nossos cônsules a receberiam com a cortesia esperada de uma aliada.
- Fico contente por isso, senhor! – repetia Agatha, cansada da intromissão do ministro – Mas preciso, de verdade, falar com o Rei…
Albert parecia não ter ouvido. Continuava a tagarelar sobre as benfeitorias dos cônsules.
Já estava tarde, e como Agatha lastimava, o Rei não aparecia. Embora o horário já fosse bastante adiantado, os nobres continuavam a comer e beber, e mais bebida e comida chegavam. Lena discutia furtivamente com os professores da Universidade e o Ministro da Educação enquanto Vicky, bêbada, conseguira seduzir todos os ricos e burros. Agatha já havia se aborrecido com o lenga-lenga do ministro e não conseguia se aproximar dos cônsules da República da Terra para obter alguma resposta. Na certa, assim ela pensava, os cônsules tentavam evitar suas perguntas, e para isso, utilizava-se do ministro anti-pático.
- Eu sabia – dizia Lena – Está óbvio que os cônsules não querem que Agatha veja o rei.
- E por que fariam isso? – perguntava Vicky, servindo-se de mais ponche.
- Não sei, o que você acha, Agatha?
- Vicky, aquela senhora não gostou de você. – informou Agatha de repente – Ela diz que você não passa de uma vadia louca que dá em cima de todo homem com mais de 20 moedas de ouro.
Lena não entendeu o porquê daquilo, mas a reação de Vicky foi instantânea. A loira pegou o ponche que bebia, encheu mais um pouco e atirou na cabeça da dama. Os guardas começaram a se mover, enquanto lentamente Agatha adentrava o interior do palácio.
Apesar do tamanho, e das inúmeras vezes que teve de cruzar por corredores escuros, Agatha chegou aos aposentos reais com alguma facilidade.
Como manda a etiqueta, ela bateu na porta não uma, mas seis vezes. Não obtendo resposta, decidiu entrar, murmurando desculpas.
O que viu naquele rico leito, não fora um rei. E sim um enfermo que como seu país se encaminhava a largos passos para a destruição.