A Cor da Lágrima

Algumas semanas depois, ela renunciara ao título que lhe foi dado e a todos os seus privilégios. Agora, a Princesa Agatha Tess se autodenominava apenas Agatha, uma simples andarilha.

Vivia de esmolas e da boa-vontade de seus ex-súditos, que nem mesmo reconheciam a ex-princesa de seu país.

- A Rainha tenta nos garantir o mínimo de vida – diziam alguns aldeões – Mas está ficando cada vez mais difícil. A guerra custa muito ao nosso Reino. Não sabemos por mais quanto tempo, nosso país aguentará.

- E vocês confiam na Rainha Amélia… quer dizer, ela está ficando velha e fraca. A Princesa ainda vive confinada no castelo. – interveio Agatha. No fundo, gostava de ficar se testando continuamente.

- Bem, isso é fato. É por isso que nos preocupamos. A Rainha é boa para nós, mas está muito velha. Por quanto tempo ela aguentará?

“Por quanto tempo ela aguentará?” As palavras de seus ex-súditos envenenaram sua alma, a preencheram com dúvidas e inquietações. Não tardaria para o Reino Suspenso do Ar ficar sozinho contra o potente Império do Fogo. Deveria encerrar sua jornada e ficar ao lado de sua mãe e do Reino. Aceitar seu destino e casar-se com o Lorde?

- Por favor, senhor, por favor! Minhas filhas… tenho filhas pequenas…

As palavras dos homens da República não eram ouvidas. Os soldados da tropa de Oliver eram conhecidos como os mais sanguinários e impiedosos de todo o Império do Fogo.

- Vocês todos são agora prisioneiros do Império do Fogo! E como tais, deverão respeitar toda a autoridade que pertencer à raça superior do Império! Servirão ao nosso Exército e suas mulheres e crianças serão conduzidas como escravas!

Em todas as cidades que Oliver Gardner passava, uma névoa de sangue contaminava a atmosfera. Aos que se opunham, só restava a destruição, a violência, a desonra.

A Vila da Argila não foi exceção. Ardeu em chamas durante três dias. Homens mortos ou feridos, mulheres humilhadas, crianças açoitadas. A carnificina deixava rastros nas valas comuns, onde velhos e pessoas consideradas inaptas eram despejados como lixo. Não restava nada, senão a tristeza e o ódio.

Um mês sem a presença de sua filha deixara a Rainha extremamente debilitada. Fazia suas refeições de maneira deficiente, não se concentrava mais em suas decisões. Pra piorar, o Reino tinha muitas despesas com a proteção e recebia milhares de refugiados.

- Não podemos mais suportar essa situação, Majestade – reclamava o Ministro do Tesouro. – Nossos recursos se esgotam, e com o bloqueio imposto pelo Império do Fogo, nossa economia ficou desestabilizada.

- E o comércio com a República da Terra? – perguntou o Ministro da Saúde.

- Estão mais pobres que nós. – respondeu o da Política Externa – O Império do Fogo já está quase às portas da Capital. É questão de tempo para que sejam invadidos.

- Proponho o aumento dos impostos. Sem isso, não podemos mais arcar com os custos de guerra! – propôs o Ministro do Tesouro.

- Não podemos aumentar os impostos Lorde Perks. – negou veemente a Rainha – As taxas estão severas demais para o povo! Se aumentarmos os impostos estaremos relegando-os à miséria!

- E se não aumentarmos os impostos, a guerra será perdida Majestade! Infelizmente alguém deve pagar o preço pelo bem comum!

- Pois ótimo! – concordou a Rainha – Realmente alguém deve pagar o preço pelo bem comum. Portanto começaremos dos que têm mais. Ordeno o confisco de metade das jóias e do capital da elite desse país!

- Tem certeza de que vai fazer isso? – Lena Brown tentara persuadir Vicky Valentine de não ir embora logo agora. – Ouça Vicky, a Rainha está só. Ela precisa de nós duas!

- Eu sempre fui solta pela vida, Leninha – argumentou Vicky – E sinceramente, acho que uma futura médica como você será muito mais útil ao Reino que uma ladra como eu.

- Está fugindo, não é Vicky? – apontou Lena – Com medo do que?

- Não sei do que você tá falando. – tentou encerrar o papo. Mas a morena prosseguiu.

- Do General. O casamento dele é daqui a duas semanas.