sábado, 31 de julho de 2010
Com exceção de Lena, as outras mulheres no palácio pareciam tristes ou esgotadas, inclusive a Rainha. Agatha teve o descontentamento de ser acordada muito cedo, oq ue a desagradou muito, afina, não pregara os olhos. E o mesmo pivô de sua insônia foi também a razão da falta de ânimo e humor.
Vestiu com indolência a roupa de equitação e desceu as escadas com a maior falta de vontade possível. Foi recebida no saguão do palácio por dois lacaios que acompanhavam seu senhor, o lorde Van Buailt.
Pela primeira vez, prestou atenção no homem com quem iria se casar: pele macilenta, cabelos negros e levemente ondulados, barba longa, olhar escuro, olheiras profundas. Tudo em seu visual lhe conferia ar misterioso e sombrio, pra não dizer nefasto.
O lorde beijou-lhe as mãos e a conduziu para o exterior do palácio, onde dois cavalos absurdamente grandes, um negro e um branco, os esperavam. Montaram cada um no seu e prosseguiram com o passeio.
Lorde Van Buailt, Agatha logo percebey, não era muito de falar. Às pouquíssimas vezes que a princesa lhe dirigiu a palavra, ele respondia com um pigarro ou quando muito, com palavras monossilábicas.
Chegaram enfim, à sombra de uma árvore onde amarraram as montarias. Uns passos adiante, havia uma toalha com algumas cestas recheadas de comida: frutas, bolos, chás, biscoitos, geleias, queijos, pães, tortas…
- A Rainha disse-me que prefere chá de hibiscos silvestres – disse o lorde, tentando arrancar uma palavra da noiva – Mandei preparar o desjejum pra você. Não vai comer?
Agatha apenas resmungou. O lorde parecia não ouvir e continuou.
- Você sabe o que isso significa?
Novamente Agatha respondeu com um resmungo. Lorde Van Buailt prosseguiu:
- Daqui a três anos vamos nos casar, seremos coroados… Você me dará herdeiros e os criará para que assumam um dia esse trono! Creio que essa foi a escolha mais sensata da Rainha ao me escolher para essa missão.
- O que passa na sua cabeça em se casar com uma garota muito mais nova que você? Aliás, o que se passou na cabeça da minha mãe pra te escolher?
- Como já salientei, sou a escolha perfeita!
- DIMITRI ERA A MELHOR ESCOLHA! – gritou Agatha.
O Lorde ergueu sua mão, que parou a poucos centímetros do rosto da princesa. Depois, ponderou melhor e desistiu da ideia.
- Você é uma princesa e a sua obrigação é servir ao Reino! E quando for minha esposa, me obedecerá acima de qualquer coisa!
O lorde segurou a outra mão para segurar Agatha. Aproveitando-se disto, forçou um beijo. Agatha se desvencilhando de novo, jogando uma jarra de suco em sua cabeça e correu para mais longe que pôde.
Van Buailt levantou-se rapidamente e puxou pelos cabelos, prendendo-na entre os braços e forçando um segundo beijo. Desta vez, Agatha mordeu os lábios dele com grande força, seguido de um golpe baixo.
O noivo estava mais preocupado com os lábios machucados que com Agatha, por isso, deixou-a fugir.
- É uma égua baia, mas vou domá-la nem que essa seja a última coisa que eu faça!
Nas semanas subsequentes, Agatha sempre pedia a ajuda de Vicky Valentine para acompanhá-la durante os encontros com Lorde Van Buailt. Ele não tentara mais nada contra a dignidade da princesa e se reservava a fazer perguntas desnecessárias e proferir palavras hostis.
Nunca em sua vida, nem mesmo quando não passava de uma princesa inútil, se sentira tão infeliz. Fazendo algo que era forçada! E sua mãe? Porque não lhe consultara? Por que não entregou sua mão a Dimitri?
Vicky passava os dias com menos emoções em sua vida… Sem encrencas, dívidas de bar, prisão, trapaças… No entanto, seu corpo necessitava desse descanso… e sua boca necessitava a dele…
Fazia uma bela noite aquela, mas a temperatura que a incomodava seu sono. A brisa acerca da fonte lhe parecia uma boa ideia.
- O que faz aqui? – perguntou Vicky à sombra que se aproximava.
- Precisava te ver mais uma vez! – respondeu Dimitri. Deu uma longa passada para tentar beijar-lhe a boca.
- Esquece! Vários já esqueceram de mim… garanto que você vai conseguir também!
- E você acha que eu não tento isso todos os dias? Me sinto culpado quando olho pra este anel! Quando olho pra Lara!
- Você é uma pessoa desprezível.
Dimitri fez cara de surpresa. Como um homem tão leal que nem ele poderia ser considerado desprezível?
- Não vê que está fazendo três mulheres sofrerem ao mesmo tempo?
- Como?
- A Rainha iria escolhê-lo para casar-se com a Agatha! E acabou preferindo aquele lorde idiota… e graças a isso, Agatha está sofrendo imensamente.
- Não seja hipócrita Vicky! Agatha é como, como uma ir…
- ELA SEMPRE TE AMOU, SEU RETARDADO!
- Mas… mas… mas… você, eu… você não me deixaria casar com ela…
- É claro que sim! – afirmou Vicky, com lágrimas nos olhos – eu não sou nada sua!
Vicky beijou Dimitri ardorosamente;
- Eu te amo, mas vou te esquecer nem que isso custe a minha vida.
Uma sombra moveu-se entre os arbustos. Aos olhos rápidos de Vicky, a criatura assustada fora facilmente reconhecida pelo simples fato de ter cabelos vermelhos.
Tamanha era sua apatia e reclusão nos últimos dias, que nenhum serviçal ousava incomodar a princesa. Agatha entrou correndo pelo palácio, estupidamente cega a ponto de derrubar um criado levando louças a serem limpas. Não sabia exatamente aonde iria, corria sem rumo, entrando de porta em porta como se o gigantesco castelo não fosse grande o bastante para suprimir sua raiva.
Entre as portas e passagens ocultas, entrou num cômodo onde jamais pisara. Escuro e mal iluminado, exceto por um pequeno feixe de luz azul. Ali ficou a chorar e a maldizer Vicky, Dimitri, sua mãe, lorde… Todos conspirando contra a sua felicidade. Todos traindo e escarnecendo dela.
- Você está me pedindo demais! – esbravejou uma voz conhecida. Agatha escutara tanto essa voz, que na primeira palavra a reconheceu – Uma Rainha jamais se curvará a isso, muito menos quando isso envolve sua própria filha.
Agatha aos poucos se aproximou da fresta onde o feixe de luz irradiava. A voz ficou mais nítida e ela pôde identificar mais duas:
- Covarde! Como ousas chantagear Vossa Majestade! – Agatha ouviu uma voz grossa e imponente. Era a de seu tio Thales.
- Rainha? – a terceira voz se assemelhava com um sibilo ameaçador – Não tem o nosso sangue real! O Reino não precisa de uma Rainha devassa , que mantém um caso amoroso com um de seus generais… sendo o mesmo irmão de seu esposo, o Rei por direito.
Agatha ficou estupefata. Então a mãe estava enamorada de Thales? Aquilo não lhe soava tão estranho. Talvez fosse coisa de família que as mulheres se apaixonassem por seus protetores. Mas, teria Amélia sido tão egoísta a ponto de vender a felicidade de sua filha em troca da pureza de sua imagem?
- Não vou forçá-la a gostar do senhor, lorde Van Buailt – replicou a mãe – Já cedi a chantagens demais de sua parte!
- E o que o Reino vai pensar quando souber que sua matriarca, sua Rainha, a dama mais respeitada do país, foi na verdade, uma mentirosa?
- Desista Van Buailt… – disse Thales – A Rainha já disse que não se importará se você revelar a todos o nosso… relacionamento.
- Sabemos que eu não falo deste assunto, general Braus… As coisas são muito mais graves, não concorda Vossa Majestade?
Amélia caiu no choro, sendo amparada por Thales. Enquanto soluçava, o lorde exibia uma feição tranquila e triunfante. A princesa já não aguentava mais: era a primeira vez que ela vira a mãe, símbolo de força do país, cair em desespero e desilusão.
- Imagina o que ocorrerá ao reino, ao povo, ao parlamento, quando vir à tona toda a verdade?
- Páre! Páre! – pediu a Rainha, aos prantos – Por favor!
- … A verdade que todos desconfiavam mas sempre tiveram receio de perguntar…
- CALE-SE BUAILT! – ordenou Thales.
- … Que a princesa Agatha não possui o sangue real da nossa pátria…
Silêncio. A porta abriu-se e do outro lado, parada, uma jovem princesa, cujo coração caiu em desespero pela segunda vez naquela noite.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Alheias ao corre-corre no Castelo de Cristal, Agatha e as duas amigas estrangeiras tentavam encontrar diversão nos rituais de preparação: banho de imersão em cristais, esfoliação, hidratação… um ritual que Lena abandonou na metade. Não aguentava mais a fumaça dos defumadores. Enquanto Lena se engasgava com os filetes etéreos e Agatha ria dela, Vicky demonstrava estar absorta. Não se ouvia as gargalhadas que certamente daria da falta de jeito de Lena. As amigas fatalmente notaram, e ela ao ser perguntada, desviava com um inexpressivo “nada não”.
De fato, parecia mágica o que os funcionários fizeram em poucas horas. À tarde, o salão real estava pronto, ricamente
Cap. 26 Frívolas Estórias do Reino Suspenso do Ar Parte Final
1 comentários Postado por Mila às 20:19Marcadores: Princesa Agatha Tess, Reino Suspenso do Ar
segunda-feira, 5 de julho de 2010
UMA DOSE DE BOURBON – A ESTÓRIA DE VICKY VALENTINE
Marcadores: Dimitri Braus, Reino Suspenso do Ar, Vicky Valentine