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Louca/Estranha/Anormal/Distante/Fria/Egocêntrica E muitas outras mais... Autora de Angelus, Tokyo Revivers e A Cor da Lágrima, codinome: Horigome Namika

sábado, 3 de abril de 2010

     Ao contrário do que as três imaginavam, chegar à Capital da República da Terra não significava ter dinheiro, ou pelo menos não imediatamente. Agatha contatou a mãe por um dos bancos; pedia mais alguma verba pra continuar sua missão. O difícil era a Rainha Amélia acreditar: a princesa tinha sim uma grande quantia, mas não seria plausível explicar como tanto dinheiro fora gasto em tão pouco tempo.
    As três se ocupavam de problemas diferentes que no fundo não passavam de um problema maior. Lena tentava de alguma forma conseguir boas vestes para penetrar no Baile da noite seguinte, baile o qual Vicky jurava que conseguiria fazer com que as moças entrassem. A ladra, aliás, mal tinha deixado suas coisas na estalagem e já sumira por entre a cidade.
   Como Lena dissera, a Capital era uma das maiores cidades do mundo, perdendo talvez para a Cidade Imperial (Império do Fogo) e para a Cidade do Vento (capital do Reino Suspenso do Ar). Agatha, que pouquíssimas vezes saíra do palácio, nunca havia estado numa cidade tão grande e tão viva. 
    A cidade era dividida por camadas: na mais baixa e maior delas, era localizada a periferia: casas feias de madeira pobre, poucas de alvenaria mal concluída; esgoto pelas ruas; crianças sujismundas correndo por aqui e ali; gente enganando os outros; maus elementos; milícias policiais e até mesmo jovens vendendo seus corpos em plena luz do dia. Na parte mediana, moravam comerciantes e funcionários de baixo escalão, as ruas eram calçadas de pedra, mas também volta e meia trambiqueiros eram encontrados. Por fim, no alto, em ricas e luxuosas casas, residiam altos funcionários do Estado, oficiais de altas patentes, professores, sacerdotes e estudantes da Universidade. Lá também estavam os prédios das maiores instituições da República: o Castelo do Rei (sede dos cônsules); a Universidade; o Quartel General das Forças Armadas etc...
    
   O crepúsculo já penetrava a cidade quando Lena chegara da loja de roupas trazendo boas, mas antigas vestes murmurando um "só deu pra comprar isso com trinta moedas de cobre". Vicky chegara logo depois, fazendo cara de desentendida, e pegando para si alguns poucos panos.
  - Vai dizer que você vai a um baile usando só isso? - repreendeu Lena, ao ver o decotado e curto vestido escolhido pela loira.
   Muito menos que o vestido de Vicky, Agatha estava preocupada com os modos de suas acompanhantes. Já que entrariam de penetra, conforme Vicky prometera, o mínimo que fariam era se comportar adequadamente. As inutéis e estressantes aulas de etiquetas lhe valeriam de alguma coisa agora, embora um pensamento ruim lhe passava pela cabeça: algo lhe dizia que seria muito difícil ensinar anos de etiqueta em um dia e ainda mais em suas alunas - uma ladra e uma caipira.
   - Temos mesmo que fazer isso? - reclamou Vicky, já se preparando pra um cochilo. - Isso me parece tão... chato.
  - Não temos escolha...além disso...
  - Além disso?
  - O baile dos meus dezoito anos será em breve e eu ficaria muito honrada se vocês duas fossem!
  - Bebida de graça! - alegrou-se Vicky
  - E muita gente interessante pra conhecer! - completou Lena
  - Concordo baixinha! 
  - Eu disse gente interessante e não gente rica!
  - Pois pra mim ricos são interessantes - rebateu Vicky.
   Agatha encerrou a confusão antes que desse mais briga entre as duas e começou sua árdua tarefa de manter Vicky e Lena num mesmo ambiente sem discutir.

   A lição acabara tarde da noite, com as duas cansadas. Vicky excedera suas expectativas, provando à princesa que se comportava como uma lady (o que a menina supunha que era mais um artifício pra enganar alguém). Lena teve alguma dificuldade, mas também aprendera rápido os modos afrescalhados passados pela professora. 
   Apesar de um dia corrido e cansativo, precedido de noites mal dormidas, Agatha não conseguia dormir. Estava calor, como sempre fazia na República da Terra, mas não suficiente para tirar seu sono. Estava cansada: olheiras eram visíveis em sua pele clara, mas mesmo assim, seus olhos teimavam em não permanecer fechados. Decidiu sair da casa alugada: fora caminhar um pouco pela rua de pedras.
  Todo seu percurso até ali: o Templo; Lena; como sobrevivera ao cair das nuvens; Julian e a Cidade Oculta da Montanha; os embates com Oliver; a pobreza; os espertalhões que lhe tiravam o dinheiro; o deserto; Vicky Valentine... como sua mente se abrira desde então! Como deixara de ser uma princesinha em seu castelo pra enfim estar a caminho de ser uma governante mais sensível!
   O amadurecimento seria a lição mais importante que tiraria daquela missão. Mas outras coisas lhe atordoavam a cabeça, fatos que sempre lhe incomodavam e ela apenas fingia que essa dor não existia. Aquela dor estava ali, a perseguia e morreria com ela. Aquela dor estava em suas mãos, na ponta de seus dedos indicadores que atendiam pelo nome de Dom de Fogo. Aqueles dedinhos que tantas vezes lhe fora um martírio salvara sua vida e de suas companheiras em momentos cruciais daquela jornada. Seria justo ignorá-la?
   "Fingir é a minha arte... Finjo tão bem que engano a mim mesma" pensava consigo. E sob a dor da dúvida fora dormir.

   Louco. Como qualquer sonho. E sem nexo algum. Ou será que não. Ela não quis comentar com ninguém.
   Tudo era vermelho e laranja, como um crepúsculo de um sol apunhalado e banhado em sangue. Dores. Gritos. Choros e lágrimas... Fogo. Chamas dançantes. Mais grito. Mais dor. Mais choro. A sensação de estar caindo no vazio e ressurgir depois sob o céu límpido... 
   Acordou sob os olhares severos das parceiras. Falar... não. P melhor a fazer seria o que fazia de melhor: ignorar. Fingir era sua arte e fingia tão bem que enganava a si mesma. Mas como era difícil para ela enganar a alguém... mesmo que esse alguém fosse aquele que aparecia no espelho todas as vezes que ela mirava seu reflexo.